quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Entrevista Completa - Rock Meeting Nº 107


  
O SC está na ativa desde 1991, mas a última formação está consolidada desde o ano passado. A que você acha que se devem todas essas mudanças?
Charlie Curcio – Acredito que a maioria das bandas undergrounds, senão todas, passam por este problema. No meu caso propriamente, junto ao desinteresse de alguns caras que passaram pela banda, o fato de que fui obrigado, por circunstâncias da vida, a mudar muito de cidades e até de estados, isso acarretou a inevitáveis mudanças na formação. Como sou o único que foi ficando da formação original, acabei herdando as responsabilidades com relação à banda.

Pra vocês, como é ter uma banda de grind no Brasil? Você acha que existe algo de diferente na cena nacional atualmente?
Charlie Curcio – Vejo que hoje o Grind está em um ponto interessante. Diferente dos anos 90, quando houve um boom do estilo, com várias bandas Grind assinando com grandes gravadoras, hoje noto que as coisas permanecem no underground, mas as bandas conseguem ter um bom trabalho, lançar discos cada vez melhores e as gravadoras, mesmo pequenas, tem uma estrutura profissional. É claro que tem aqueles que não querem sair do gueto, dos pequenos shows e dos lançamentos em formatos como CDr, e até fitas cassetes gravadas sem muita preocupação, mas entendo que este é o espírito do extremo underground que persiste. De minha parte, acho que já fiz este alicerce, hoje tenho uma preocupação cada vez maior com a qualidade do trabalho, mas com o cuidado de não perder as características que acompanham a banda desde seu início. O fato de termos entrado no catálogo da Cogumelo, Voice Music e GreyHaze muito me orgulha e é um passo muito largo, vários degraus galgados.

Atualmente como está a cena em BH? Temos visto alguns shows internacionais que vão pra cidade, mas como estão os shows nacionais?
Charlie Curcio – BH é uma metrópole, acontece muita coisa aqui o todo tempo. Temos muitas ótimas bandas, excelentes músicos que buscam o melhor sempre. Claro que aqui também encontramos aproveitadores, aventureiros, espertalhões de plantão que utilizam dos nomes das bandas para se alto-promover e os produtores que se acham mais ídolos que os músicos. Mas, isso é inerente de todos os lugares, e cabe a quem trabalha sério se desvencilhar destes caras. Shows de bandas nacionais são uma constante por aqui. Nos finais de semana acontecem vários eventos ao mesmo tempo, com uma gama rica de artistas. O que sempre falo é que este cenário musical daqui tem que ir para outros centros, seja as bandas irem tocar fora ou trazer o público para cá.
                                
Em setembro vocês lançarão seu segundo CD, como foi o processo de gravação dele?
Charlie Curcio – O processo todo foi cansativo (risos). Nós utilizamos o mesmo estúdio que temos gravado outras vezes e onde também ensaiamos de vez em quando, então tudo fica mais fácil assim, pois todos se entendem melhor, a dinâmica flui muito melhor. Pela primeira vez recorremos a outro estúdio apenas para a masterização final, processo mínimo só para chegar aos níveis ideais exigidos pela gravadora. O cansativo a que me refiro é quanto ao tempo que demoramos para finalizar, mas foi preciso para chegar ao alto nível que o material apresenta.

Como é o processo de composição de músicas e letras pra vocês? No que vocês se inspiram?
Charlie Curcio – Nosso processo é o mais simples possível, ou seja, eu crio algumas bases na guitarra, que servem de esqueleto para um novo som, daí no ensaio vamos moldando até finalizá-lo. Hoje temos uma formação de caras experientes no estilo, então quando apresento esta estrutura inicial eles já vão propondo os acréscimos, encaixes e mudanças. As letras são quase todas eu que escrevo também e me inspiro no que há de pior no mundo (risos). O ser humano nos proporciona muito tema para letras. Este novo CD tem algumas letras que falam até do caso em Janaúba, em que um rapaz ateou fogo em crianças na creche da cidade. Há ainda temas que tratam de assuntos de psicopatia, de cunho social e até crítica ao próprio underground, onde alguns caras se portam como donos do meio e do estilo.
                                            
Como foi o processo de contrato com a Cogumelo?
Charlie Curcio – Eu trabalho na Cogumelo, então tudo ocorreu meio que por osmose. Antes de eu morar em BH, a loja já teve outros lançamentos nossos e sempre vendeu muito bem, nunca encalhou, isso ajudou para criar um interesse por nós da parte dos donos da Cogumelo. E o CD novo foi feito especialmente para este lançamento, mesmo tendo algumas releituras de sons que já havíamos lançado de maneira amadora recentemente e até um som antigo, que saiu no CD 5-Way Grindattack, As a Kick in You Head.

Quais são os planos do SC após o lançamento do CD? Podemos esperar mais shows?
Charlie Curcio – Sim, estou trabalhando nisso já, fechando o máximo de datas possível. Inclusive temos uma proposta de uma mini turnê no nordeste para o primeiro semestre de 2019, quem sabe fechamos algo em Maceió, seria um prazer! Também tenho divulgado ao máximo este lançamento, e o nome da Cogumelo e ainda GreyHaze e Voice Music ajudam demais, claro. Sairá uma caixa especial feita de madeira, incluindo o CD novo, uma camiseta exclusiva, adesivo e pôster.
                                  
Agora o espaço é de vocês: Deixe algumas palavras para nossos leitores.
Charlie Curcio – É uma satisfação novamente figurar na revista, a qual acompanho desde o início, agradeço muito o espaço e atenção. Espero podermos em breve tocar para os maníacos de Maceió e região. Acreditem em voces, não caiam em discursos demagogos desta classe política deste país, pensem bem antes de declarem apoio e defesa a algum destes nomes. E não permitam que o underground seja um reduto de derrotados, que os shows continuem sempre lotados, que a força da música pesada seja cada dia mais expansiva e forte e nossa cultura a nossa liberdade. Obrigado a todos e sejam felizes.
                                  

http://www.rockmeeting.net/edicoes/rockmeeting107

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