Entrevista:
STOMACHALCORROSION
Com:
Charlie Curcio
Por:
Hioderman ZArtan
01. Rapaz, quase duas décadas, ou mais, para
eu entrevistar vocês novamente (risos)! E ai Charlie, comente ai um pouco desse
retorno da banda aos estúdios, sendo que o SxCx é uma das lendas da nossa cena
Grindcore, nem precisa muita apresentação, hehe!
Charlie Curcio – Pois é, meu velho, o tempo passa e a gente
permanece firme no Underground, mesmo
contra a vontade de uns (risos). O StomachalCorrosion
deu uma parada em 2009 depois da apresentação no festival Roça’n’Roll, Varginha, e devido a umas mudanças na minha vida
pessoal. Em 2013 voltamos à ativa, mas sem muito resultado. Só em 2015 é que as
coisas engrenaram de vez, já em Belo Horizonte. Aqui os trabalhos tem sido
constantes para tentar recuperar o tempo perdido e tem sido muito satisfatório.
A volta aos estúdios se deram pra valer e alguns materiais tem saído aqui e
ali.
02. Olhando aqui a discografia da banda,
passou de 40 materiais lançados, dentre DTs,
Splits, LPs, CDs, Compilações, etc., sendo que a banda foi
formada em 1991 e o primeiro álbum oficial lançado foi o “Transtorno Obsceno
Repulsivo”, em 2005, e, recente estão com um CDzão ai fudidasso. Como avaliar a
estrada percorrida pela banda até os dias atuais. Satisfatória? Há algum trampo
que vocês consideram que ficou acima do esperado e há outros que desejam
regravar ou ajustar gravações com bônus em lançamentos futuros?
Charlie Curcio – Eu sempre gostei de incluir o SC em alguns lançamentos, mas primando em não colocar muito som
repetido o tempo todo. Isso cansa os caras que pegam material por aí. Por isso,
e devido às minhas mudanças de cidade e de formação da banda, que não temos
muito material lançado e o primeiro CD cheio nosso só saiu em 2005, justamente o
Transtorno... O novo CD, chamado
apenas StomachalCorrosion (sim,
escreve-se junto mesmo), vem depois de trezes anos de muita letargia e agonia
para tentar fazer algo de qualidade, e considero que conseguimos. A atual
formação conta com caras experientes. O Fred, batera, já tocou em outras
bandas, como a grande Mata Borrão,
banda clássica em BH. O baixista, Hash Golem, já foi do Impurity e rodou em outras bandas. Só nosso atual vocal que está
debutando em bandas, mas é um cara que já está no cenário há alguns anos e tem
contribuído muito com sua maneira de enxergar a música pesada. Sobre materiais
que pense mereçam um nova chance (risos), vejo os sons do CD 5-Way Grindattack como os que precisam de
regravações, tanto que neste novo CD incluímos um som deste CD, As a Kick in Your Head.
03. O Split com o Agathocles, pra mim um
dos CDs mais fodas já lançados, pois reúne duas lendas. Como surgiu o convite e
após, rolou algum convite para tour com os caras ou algo na linha?!
Charlie Curcio – O lance todo começou quando o Jan me pediu para
resgatar um material que estava nas mãos do Altemar Pereira, que seria um LP ao
vivo, o qual chamaria Live in Stavenhagen.
Entrei em contato com o Altemar, peguei o material e sugeri um Split, pois estávamos para entrar em
estúdio, mas não tínhamos uma quantidade suficiente de sons para um CD cheio só
nosso. O Jan, agindo estranhamente aceitou fazer um Split (risos). Ofereci o
material para alguns selos, que, pra variar, já tinham uma quantidade enorme de
lançamentos previstos e não poderiam nos lançar (esta é uma constante na
história do SC), até que o Sérgio Giacomassi, aceitou lançar pela sua No Fashion Rec. Em conjunto com a Heavy Metal Rock. Sobre ir à Europa,
não, não rolou nenhum convite pra ir por lá. E também nem tínhamos grana para
tanto, portanto nem pensamos nisso.
04. Sim, falando em tour, o SxCx já
fechou alguma data de tour fora do país? Como você avalia essas parcerias de
bandas para fazerem tours ou até mesmo as “agencias undergrounds” atuais que estão a auxiliar as bandas neste sentido?
Charlie Curcio – Já cheguei a pensar muito em tocar na Europa, mas
acho que ir só por ir, e não ter uma constância acaba entrando no esquecimento
dos caras por lá. O legal é fazer um nome no continente primeiro, lançar e
mandar material aos montes por lá. Nós nunca tivemos uma expansão boa por lá,
imagino eu, então ir, passar um perrengue desgraçado, gastar dinheiro que nem
temos direito, constituir dívidas na volta e nunca mais voltar para novas
turnês, não vejo viável para o SC.
Quem quiser fazer estas coisas, que o faça e seja muito feliz, falo por mim e
por minha banda e os caras que estão comigo nela. Sobre as agências, bem, tem
uns caras sérios, mas tem uns que mandam proposta que só em ler já desisto, pois
o esquema de certos caras é tão tosco que é como se eles dissessem algo assim:
Olha, eu conheço uns caras lá na Europa, vou dizer que voces estão indo pra lá,
eles vão tentar colocar voces em alguns shows, mas não é certo. Certo mesmo é
que voces terão que pagar todas as suas despesas de ida e volta, e também as
minhas, como passagens, estadias, rango, traslado, etc. Ou seja, uns caras
arrumaram um meio de fazer turismo às custas de uns mendigos de palco. Isso
comigo não cola, mas mais uma vez digo: quem acha que estes esquemas são
viáveis que sigam em frente e que tudo seja legal para todos.
05. Cara, o que tu tens ouvido
atualmente de bandas que você poderia indicar? Tipo, eu creio que muitos têm a
visão de que o cara toca um estilo e só ouve aquilo direto. Eu mesmo curto uns
progressivos e até uns harsh antigos,
ou seja, curto conhecer novos estilos, mas, o SxCx foca única e exclusivamente
no Grindcore para criar as linhas de
suas músicas?
Charlie Curcio – De bandas eu realmente ouço muita coisa. Quando
comecei a ouvir música pesada não existiam os sons mais extremos que temos hoje
e de uns tempos pra cá, então aprendi a “acumular” boas bandas para ouvir,
sendo assim posso dizer que ouço de KISS
e Iron Maiden, até Napalm Death e ExNxTx, de Holy Terror a
Discharge, passando por Ultra Passiv, Accept, The Mist, Sarcófago, Psychic Possessor, e por aí vai. Sobre a forma de compor... cara,
confesso que por um pequeno período eu me influenciei demais por algumas
bandas, e cheguei a pensar que o SC
poderia estar inserido no nicho destas bandas, o que me rendeu alguns
comentários pejorativos como parecendo uma cópia de algumas delas. Mas, com o
tempo a gente vai crescendo, vai amadurecendo e largando as infantilidades de
lado. De um bom tempo pra cá acredito que entendi o que a banda exige não só de
mim, que componho boa parte do material, como dos demais membros, e nos
situamos melhor na forma de fazer todo o material, procurando estar no que é
nossa própria identidade, sem querer estar pendurado no saco de nenhum falso
ídolo do underground.
06. Essa é clichê mas, vocês tem outros
projetos musicais além do SxCx?
Charlie Curcio – Eu já tentei começar uns projetos, mas não foram à
frente, então de dedico exclusivamente ao StomachalCorrosion.
Os demais caras eu acho que também não tem nada sério. O nosso baixista vez por
outra toca em umas bandas. Todos somos muito concentrados no que o SC faz hoje em dia.
07. A formação atual do SxCx está fixa?
Charlie Curcio – Espero que sim (risos). Somos hoje: Saulo nos
vocais, eu, Charlie, na guitarra, Hash Golem no baixo e o Fred na bateria.
08. Rapaz, e esse box set ai via
Cogumelo Records? Como surgiu a ideia e, quais os atrativos deste lançamento?
Charlie Curcio – Eu trabalho na Cogumelo
e tenho muito orgulho disso. Em algum momento em nossas conversas, joguei a
proposta ao João Eduardo dele nos contratar, ele disse pra fecharmos a
formação, compormos um material novo e mostrar pra ele. Isso junto ao fato de
que, segundo ele mesmo, todo o material da banda que chegou na loja fora
vendido, nenhum encalhou e também por sermos uma banda antiga, já rodada, com o
nome consolidado no cenário e tendo aparecido em muitos lugares, isso ajudaria
na questão de divulgação e apresentação deste novo CD. Sobre atrativos, o CD
vem com vinte e um sons, uma arte simples, mas muito fudida feita pelo
talentosíssimo Fernando Drowned. E contará com uma edição especial em cem peças
de uma caixa de madeira com um CD, uma camiseta exclusiva, um adesivo e um
pôster. É algo bem legal e meio raro para uma banda Grind do Brasil. Sei que alguns caras estão torcendo seus narizes
para estas coisas ao nosso respeito, mas estes mesmos caras são os que pagam
caro por um mero compacto de uma banda gringa. São os mesmos que criticam o
preço de uma fita profissional importada, mas acham legalzinho pagar caro por
qualquer coisa de alguma banda de fora e ainda postam no Facebook todos cheios
de orgulhinho por ter conseguido tal material.
09. Destes 21 sons, são todas composições
suas? Qual a temática lírica abordada neste CD? Pergunto, pois, em se tratando
de GrindCore, logo vem à mente ser somente a barulheira/tosqueira de garotos de
15 anos tocando feito loucos, kkkk!
Charlie Curcio – A maioria dos sons foi eu que compus e escrevi as
letras, mas há música e letras de todos. E não costumo nomear cada faixa com o
nome de quem compôs e escreveu a letra, ao meu ver tudo é um trabalho conjunto
e pertence à obra da banda, não de uma pessoa só. Sobre os temas, temos de tudo
um pouco, como críticas sociais, ironias ao meio Underground, fatos ocorridos
no Brasil recentemente, como o homicídio em Janaúba. A barulheira tosca a que
você se refere, deve ser quanto ás bandas Noise Core, certo? Este é um estilo
que não estamos inseridos, mas é um que caminha meio que em paralelo ao Grind sim.
10. Certamente que um trabalho tão
primoroso deste, e, sendo que as caixas/boxs estão sendo confeccionados no
velho D.I.Y., acho massa demais isso..., essa tiragem mínima seria pelo alto
custo ou por representar somente por vocês terem a noção que estas poucas são o
suficiente? Ou seja, “quem pegou, pegou, quem não pegou, dançou?!”.
Charlie Curcio –
Os custos de produção destas caixas especiais são altos, demanda tempo e
dedicação constante. Tudo é sempre feito por mim, pinto à mão todas, mando
fazer os adesivos, os pôsteres e os corto um por um. As camisetas eu que
aprimorei o desenho, acertei com a serigrafia que as imprimiu, e também dobrei
todas e vou colocando dentro de cada caixa com os demais itens. Ou seja, Faça
Voce Mesmo realmente. Sobre a quantidade, acho que cem peças é o suficiente e
as pré-vendas sempre ajudam a viabilizar a produção, e confesso que quem pegou
pegou, quem ficou pra pensar e ver com calma e mais pra frente, o famoso “fica
pra próxima”, vai ficar sem mesmo. Mas, estes nem devem ter interesse neste
lançamento, como eu já disse anteriormente, este caras sempre tem outras bandas
melhores pra investirem.
11. Você citou algo que tenho ouvido
muito ultimamente: “Já estou envolvido com muitos lançamentos”; mas, o que mais
vejo são lançamento cooperativos, eu mesmo fiz muitos com parceria de oito
selos ou mais. Você acha que este tipo de lançamento cooperativo é valido para
a banda? Visto que, para os selos fica muito limitado pois o que é de certo é
que divulga muito, mas, os selos ficam regrados a poucos pontos pois sendo
muitos selos, maior o alcance do mesmo em questão de regiões.
Charlie Curcio –
Cara, eu acredito que cada um na sua, se alguém acha que fazer cooperativas é
uma boa, que as faça. Não vejo problema nenhum em um dia o StomachalCorrosion entrar em um esquema de lançamento por vários
selos. Mas, confesso que antes de receber a proposta da Cogumelo meu pensamento era de ficarmos independentes e lançarmos e
distribuirmos nossos lançamentos, como temos feito com algumas camisetas, a
cassete Kaos em Betim e o 3-Way Nipshit (SC, Cleptophagia e Perfusion Blood). Isso justamente por
eu ter cansado de oferecer o trabalho de minha banda a muitos selos e receber a
mesma respostinha de sempre. Se não tem interesse por minha banda, eu mesmo me
viro e faço como puder. Nestes tempos em que tudo ofende e traumatiza esta
geração de isopor, é melhor ficar quieto e trabalhar sozinho, do que mandar um
FDP diferente se fuder todos os dias.
12. Meu amigo Charlie Curcio, agradeço
imensamente a boa conversa e por ceder um pouco de seu tempo para responder
esta humilde entrevista, agradeço e deixo aqui o espaço para o amigo relatar
algo mais que tenha interesse...!
Charlie Curcio – Muito gratificante voltar a responder uma entrevista
sua, meu velho camarada Hilderman. Voce é um cara que sempre apoiou o StomachalCorrosion, mesmo não podendo
sempre, mas vez por outra arruma uma maneira de ajudar. Eu que agradeço a você,
ao Sandro e ao fudido zine pelo espaço para colocar minhas falas, que nem
sempre são satisfatórias para falsos, fracos e derrotados, gente que se esconde
em suas máscaras hipócritas e cheias de regrinhas pífias, boicotes infantis e
discursos recheados de escrota demagogia. Sim, a corrosão segue seu curso.
Abraço e vamos em frente... Sejam Felizes!
Contatos:
E-mail: charliefcurcio2@gmail.com
Site: facekook.com/stomachalcorrosion
www.stomachalcorrosion.blogspot.com.br
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