quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Entrevista Completa - Fanzine Mosh Nº18



1. O StomachalCorrosion passou por um período de hibernação e retornou lançando o split cassete Somos Todos Ratos de Esgoto, juntamente com os portugueses do Disfigured Human Mind, em 2016 e participa do CD 3-Way Nipshit com as bandas Cleptophagia e Perfusion Blood no início de 2017. Agora em 2018 recebemos a excelente notícia do lançamento de um novo play de inéditas, o qual será lançado no segundo semestre pela Cogumelo Records. Fale-nos sobre esse novo trabalho.

Charlie Curcio - Desde que voltamos em definitivo, no final de 2015, que Fred (bateria) e eu estamos em uma constante de composições novas e tirando algumas antigas. Ao mesmo tempo que buscávamos uma formação fixa para melhor desempenhar todo o processo. O novo CD é o resultado definitivo de todo este empenho. Os trabalhos lançados nesta etapa da banda em BH, junto à fita ao vivo Kaos em Betim, fazem parte desta maturidade da atual formação e nos ajudaram a chegar ao que apresentamos no novo CD. Falando do lançamento em si, ele tem vinte e uma músicas e uma intro. É a primeira vez que usamos o recurso de Introdução em um lançamento nosso, uma proposta de nosso vocalista, Saulo, e eu desenvolvi a ideia ali apresentada.

                                                        

2. Como foi o contato da gravadora Cogumelo Records junto ao StomachalCorrosion para o lançamento deste play? Vocês já estavam há um bom tempo sem lançar material e com certeza deve ter sido bem difícil conseguirem um selo disposto a lançar o álbum de vocês, levando em conta a atual crise do mercado fonográfico.
Charlie Curcio - Mesmo com a tal crise fonográfica a Cogumelo Records segue lançando e relançando. Na loja eu sempre deixei estes recentes itens que temos feito, e por sorte, tem vendido muito bem, assim como os antigos materiais do SC, os splits com Jan AGx e Agathocles, assim como o CD Transtorno Obsceno Repulsivo. Conversando com o João Eduardo sobre uma possibilidade de entrarmos no catálogo riquíssimo da gravadora, ele disse certa vez para reformularmos em definitivo a banda, compormos novo material e o mostrarmos. João ainda completou que não teria problema em nos contratar uma vez que a banda é antiga, tem história e um nome já consolidado no meio, o que não acarreta tanta promoção e apresentação. Ou seja, ele mostrou também seu lado empresarial no ramo musical. E foi o que fizemos ao levarmos os sons presentes no 3-Way Nipshit, até porque esta nossa gravação contou com o Rodrigo F. (Holocausto, Certo Porcos) no baixo. Ele ouviu, gostou e nos incentivou a compor um material para um CD cheio. Sobre outras gravadoras, sim, eu sempre ofereci nosso material a outros caras, mas eles sempre tem outros títulos para lançar, sempre estão muito ocupados com suas gravadoras, são caras mais ocupados e atarefados que uma gravadora como a Cogumelo Records. E confesso que nosso pensamento era o de sermos independentes, mas recebemos este convite e abraçamos com toda força.


3. As dificuldades estão grandes para todos, sem exceções. Não importa se você é uma banda iniciante ou não. Como vocês acham que as bandas podem se movimentar para superarem esses obstáculos, em questão do lançamento de seus trabalhos?
Charlie Curcio - Dificuldades sempre existiram. Antes era falta de condições para comprar equipamento e instrumentos de qualidade, divulgação, entrar em uma gravadora descente e ter o trabalho reconhecido e conhecido. Entrevistas como esta eram feitas por correspondência e demorava às vezes até um mês entre o envio das perguntas, o recebimento, edição e diagramação nos zines e revistas. O que aprendi com o tempo é que neste meio o melhor é conquistar espaço, não comprá-lo, e isso se consegue com credibilidade, sinceridade e trabalho, dedicação e amor ao que se faz. Além de saber se desvencilhar dos derrotados que surgem vez por outra, vomitam suas regrinhas mediante suas vidinhas dentro de celas e depois somem, deixando um rastro de infelicidade, rótulos e boicotes.


4. Vocês com certeza são um dos pioneiros no estilo aqui no Brasil. O Stomachal surgiu na carona daquele grande boom do Grindcore mundial no final dos anos 80 / início dos 90, com o ápice de bandas como Napalm Death, Carcass entre tantos outros. Podemos perceber que sempre mantiveram essas influências dentro do trabalho de vocês, colocando o estilo e o toque pessoal da banda em tudo. Não importa o quanto tempo se passe, a personalidade tem que permanecer, não?
Charlie Curcio - Todos começamos imitando alguém, com o tempo vai-se moldando uma personalidade, mesmo permanecendo fiel ao estilo inicial. Voce acertou nas bandas que me influenciaram a moldar o embrião do SC no final de 1990, começo de 91, além de outras mais, porém com tantas decepções e frustrações no decorrer de quase trinta anos, a preocupação de não parecer com certos nomes viu-se necessário. O que agradeço a certos hipócritas que conheci, convivi e até admirei, eles me forçaram a fazer, junto aos companheiros de hoje e de outras formações, um trabalho que encaro como de certa maturidade e identidade própria.


5. Falando do Grindcore, você acha que o estilo foi um pouco “engolido” por outros estilos mais escolhidos pelas bandas iniciantes ou existe uma renovação acontecendo na cena? E nessa renovação, cite algumas bandas que se destacam no cenário Grindcore.

Charlie Curcio - Primeiro que nunca acreditei e nem me senti inserido em uma cena. Até cheguei a pensar que isso existia, mas esta ideia durou até ler algumas páginas de algum fanzine qualquer ainda nos anos 80. E é claro que alguns pontos cruciais e característicos do Grindcore foram absorvidos por outros estilos, principalmente quando bandas grinders assinaram com gravadoras maiores e suas maneiras de compor chegaram a mais caras que montavam suas novas bandas. Vejo isso muito natural, afinal, depois do From Enslavement to Obliteration, do Napalm Death, 99% dos vocalistas que surgiam faziam o que Lee Dorian "popularizou" naquele álbum. Sobre novas bandas, esta é sempre uma questão injusta, pois é inevitável não citar alguém, mesmo que esteja sempre presente nosso equipamento de som, mas posso citar nomes que até brincam comigo dizendo que são "filhos do SC" (risos), como BAGA e Expurgo, além de verdadeiros cataclísmicos como Desalmado, Facada, Expose Your Hate, Test e Tumbero.



6. Voltando ao novo play “StomachalCorrosion”, como vocês planejam divulgá-lo?

Charlie Curcio - O de sempre, tocando ao vivo o máximo possível, fazendo material promocional tanto físico como virtual. Tanto que iniciamos as pré-vendas três meses antes do lançamento mundial e foi uma boa ação. Também contamos com mais fanzines e revistas, assim como blogs e sites, para responder mais entrevistas, comentarem nosso álbum, etc.

                                 

7. Os shows ainda são a grande vitrine para a divulgação, não? Sendo vocês especialistas no assunto, já possuem algo em mente, em termos de uma possível turnê?
Charlie Curcio - A tradução do nome em si já diz tudo, mostra. Assim deve ser encarado o ato de ir à um show, conhecer novas bandas, curtir as que já conhece e estar com os conhecidos. Portanto, sim, os shows ainda são um momento mágico para qualquer banda. Poucas não tem interesse em tocar ao vivo. Sobre turnês, no Brasil uma banda como a nossa sofre vários percalços para fazer uma turnê, principalmente devido a aventureiros e preguiçosos, pedantes e esnobes que se metem a ser "produtores" de eventos por aqui. Poucos encaram a tarefa de organizar realmente um show de maneira respeitosa para com as bandas e público. Outros ainda se acham os ídolos intocáveis que pensam estar fazendo um favor às bandas. De qualquer forma temos alguns convites de caras sérios para tocamos em algumas cidades, inclusive proposta para uma mini turnê no nordeste em 2019.


8. Neste período em que vocês permaneceram um tanto quanto fora do cenário, o público de vocês sempre pediu pela volta do Stomachal em definitivo. Sempre foi uma constante nas redes sociais da banda esses pedidos. Como o público de vocês recebeu a notícia desse novo trabalho de inéditas?
Charlie Curcio - Realmente vários caras chegavam até mim nos lugares e até via internet falando que o SC tinha que voltar e tal. Isso é muito legal e gratificante. E a entrada do Fred na banda se deu meio que assim, a gente se conheceu num show do Olho Seco em BH e numa rápida conversa ele disse que conhecia a banda e que eu deveria voltar, respondi que se aparecesse ao menos um batera interessado até voltaria de vez, ele falou que tocava bateria e que toparia. Quanto receptividade deste novo trabalho e ainda via Cogumelo Rec., os comentários e reações foram os melhores possíveis. Muitos camaradas nos parabenizaram e diziam curiosos para sacar o quanto antes o CD.


9. Muito gratificante esse reconhecimento, não? Após tantos anos na luta, manter um público fiel, que acompanha o trabalho de vocês, com certeza é um grande incentivo para o Stomachal continuar seguindo no front, não é?

Charlie Curcio - Com toda certeza. É algo que a gente só nota quando para. É como alguém que morre e vira "a melhor pessoa do mundo" (risos). Mas, tenho, particularmente, muito orgulho de cada show que o StomachalCorrosion tocou desde seu início, pois por onde passamos fizemos e fazemos amizades e são estes caras que nos dão esta força motriz para seguir em frente, fazendo o que curtimos e da maneira que queremos.

10. Durante esses anos, muita coisa mudou dentro da cena, em termos de comportamento, estilo, divulgação e principalmente a participação efetiva do fã. Como vocês encararam a parte negativa do avanço da internet, que entre outros males, trouxe uma grande debandada do público em shows e a pouca procura pelo material físico, algo que para nós que acompanhamos a cena há vários anos, parece inconcebível, mas se tornou uma triste realidade?

Charlie Curcio - Encaro estes pontos de maneira muito simples, se alguém não vai à um show, acredito que quem perde é só esta pessoa. Se não compra um material das bandas, não vai ao show, e fica de compartilhar na internet "Apoie a Cena" e estas bobagens, este é mais um hipócrita. Claro que cada um tem sua vida e tal, mas o meio underground é composto por estes costumes, ou seja, ir aos shows, ter e se orgulhar do material que tem. Imagine se as bandas pararem de toca ao vivo, se desinteressarem de compor e gravar para lançar algo físico. Que mundinho sem graça teremos, o da música virtual feita para pessoas de plástico.



11. O retorno gradativo de formatos físicos mais antigos, como o vinil e o cassete, mostram um certo inconformismo de uma parte do público com essa situação atual que eu citei na pergunta anterior. Como vocês encaram esse resgate, se é assim que podemos nos expressar sobre esse fenômeno?
Charlie Curcio - Se pararmos para pensar que quando a televisão surgiu as pessoas falavam que o rádio iria morrer, que o CD iria matar o vinil, etc., este momento de retorno aos formatos de antes é algo natural. Eu mesmo e muitos conhecidos nunca deixamos de ouvir e ter fitas cassete, vinis e revistas. Vejo que de uns tempos pra cá a ordem de certas ações se inverteu. Antes eram as gravadoras que ditavam as regras, hoje o público que comanda e dita o andar da carruagem. Lógico estou falando de música de verdade, não do que rola na base do "jabá" no rádio e TV, com porcarias ditas como artistas e que em poucos meses somem do mapa para virem novas porcarias. Quem fez o vinil ter valor novamente? O público ouvinte e colecionador do formato. O mesmo com as fitas e até com o CD. Logo as pessoas resgatarão aquelas máquinas de fotografar com um olho fechado e outro colado na máquina (risos).


12. E como vocês se posicionam sobre as plataformas digitais? Acham uma ferramenta útil nos dias de hoje?
Charlie Curcio - Confesso que uso, mas até certo ponto. Atualmente sigo a maioria e me limito mais ao Facebook e nossa página, mas criei um blog com novidades, fotos e tudo mais relacionado ao SC, além de um site de vendas de nossos lançamentos. É a atualidade, né? Nos anos 90, quando os Correios surgiram com as Cartas Sociais, quase ninguém pagava mais do que R$0,01 para enviar correspondência e era a inovação daqueles dias (risos).


13. Agradecemos imensamente ao StomachalCorrosion, por nos atender com muita atenção e rapidez, parabenizamos pelo lançamento desse novo trabalho e pedimos que deixem uma final aos leitores do Fanzine Mosh.

Charlie Curcio - Nós que agradecemos enormemente a voces pelo espaço. Acompanho o Mosh de longa data e é muito satisfatório estar, finalmente, entrando em suas páginas. Agradecemos ao André, Calixto e toda equipe pelo espaço e pelo excelente e sincero trabalho. A quem leu esta entrevista, honre o fato de voce fazer parte deste meio, de ser um ser underground, não faça concorrência com os políticos em termos de discursos demagogos, nós somos uma galera diferente, não deixemos este meio enfraquecer e esmorecer. Quando voce for a um show e seus camaradas preferirem ficar assistindo alguma porcaria na tv ou colado no celular e pc, responda a eles que o local estava lotado, que foi 'ducaralho' e tudo mais. Não caia no erro dos derrotados. Abraços e sejam felizes. 


https://miltrekos.loja2.com.br/8406244-Caixa-Especial-StomachalCorrosion-StomachalCorrosion-Pre-Venda-

https://miltrekos.loja2.com.br/8438311-CD-StomachalCorrosion-StomachalCorrosion-Pre-Venda-
 
https://cogumelorecords.loja2.com.br/8407310-Box-StomachalCorrosion-StomachalCorrosion

https://cogumelorecords.loja2.com.br/8509404-CD-StomachalCorrosion-StomachalCorrosion-Pre-Venda-

Nenhum comentário:

Postar um comentário