terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Entrevista Completa - Roadie Crew nº240

O novo lançamento do Stomachal Corrosion foi via Cogumelo Records. Além de toda produção gráfica especial desse álbum, o que ele traz de diferente do “Transtorno Obsceno Repulsivo”?
Charlie Curcio: Acredito que este material está mais homogêneo em questão de estilo em relação ao nosso primeiro CD. Tivemos tempo para irmos amadurecendo um estilo dentro de nossas possibilidades, na forma de compor e executar. E também é nossa melhor produção e assessoria que já tivemos até hoje.

Com o novo álbum em mãos, as possibilidades para o SC podem ser ampliadas? Farão uma turnê de divulgação?
Charlie: A expansão do nome da banda já chegou a um patamar incrível. Estar nos catálogos da Cogumelo e GreyHaze (EUA) faz este efeito, pois são gravadoras com larga história e tradição. Sobre turnê, você sabe como poucos as dificuldades que esta prática carrega consigo aqui no Brasil, principalmente quando temos tantos compromissos particulares que nos podam para certas ações. Mas, estou procurando sempre fechar datas ao vivo em várias cidades para divulgarmos o novo álbum.

Sabemos que a Cogumelo foi importantíssima na cena nos anos 80 e 90 e está relançando muitos itens preciosos de seu catálogo. A tradição da gravadora e, principalmente, pela grandiosidade do catálogo contribui para colocar o novo álbum em outro patamar de lançamentos da banda? Ser um contratado da Cogumelo Records ainda faz diferença na cena?
Charlie: O trabalho na Cogumelo é constante desde seu primeiro dia e com predominância hoje para os relançamentos de alguns itens de seu riquíssimo catálogo recheado de clássicos e alguns lançamentos de novos títulos inéditos. Este respaldo nos dá uma moral de fazermos parte deste catálogo. Sem dúvida este fato ocorrido com o SC me enche, particularmente, de satisfação e orgulho. E estar na Cogumelo é importante, tendo em vista que todos os dias várias bandas entram em contato enviando material para audição visando contrato de lançamento.



O SC é quase "nômade". Começaram na Paraíba, depois migraram para o interior de MG e agora em BH. Essa mobilidade foi legal para banda?
Charlie: Sempre digo que, atrelado ao desinteresse, à falta de profissionalismo e seriedade de alguns caras que passaram pela formação, as mudanças, tanto na banda quanto de cidades e regiões, foram os maiores problemas para a banda. Isso tudo não permite um trabalho contínuo e constante. É sempre péssimo, cansativo e desgastante ensaiar tudo e montar tudo de novo. Claro que hoje as condições de vida são outras, mas tenho procurado ter paciência com algumas situações em nome da estabilidade e da continuação do trabalho. Penso que lançar um novo CD de inéditas em 2020 é primordial a manutenção da formação.

Estar baseado em uma cidade como BH, ainda faz diferença para o desenvolvimento do trabalho de uma banda underground?
Charlie: As possibilidades encontradas em uma metrópole são sempre infinitamente maiores que em qualquer interior, seja a região que for. Principalmente, que hoje muitas coisas são mais fáceis e acessíveis do que quando comecei com o SC. Mas, não se iluda! Aventureiros e derrotados existem em todos os lugares. Na cidade grande é mais fácil se desvencilhar de tais pessoas, claro. Quanto a shows, se quiser, uma banda não precisa nem sair de BH, uma vez que rolam shows constantemente por aqui. Mas ainda encontramos muito amadorismo e desrespeito com as bandas.

O SC assume-se como uma banda de grindcore, mas trafegam muito bem pelo metal, inclusive em eventos. Há alguma particularidade na cena grind que difere da cena metal? E ao assumirem-se como "grind" encontram mais aceitação na cena grind em relação à cena metal?
Charlie: Sinceramente não sei mais se somos, ou até se fomos Grind. Acabo acreditando que o som do SC é algo que flerta entre os estilos mencionados, mas acabou tendo alguma característica própria, o que vejo com enorme satisfação. Sobre aceitação, a banda sempre encontrou melhor respaldo e recebeu convites para shows, compras de material, além de respeito e apoio no meio Metal. Basta ver os eventos em que tocamos, a enorme maioria foi de cunho Metal. Não que me segreguei a este nicho, muito pelo contrário, sempre militei pelo e no Grind/HC/Punk, e mesmo assim noto que alguns "donos" deste meio fazem algum tipo de vista grossa ao evitarem de alguma forma o SC. Não que isso me afete, até porque a banda segue sua vida e hoje estamos em uma gravadora com catálogo 90% de bandas Metal e ainda temos muito apoio de Grinders, Punks de HCs. Veja nossa pequena discografia e verá quantos materiais temos por selos Grind e quantos por selos Metal. Às vezes a demagogia e hipocrisia aflora mais onde estas práticas são condenadas, o que é natural do ser humano, infelizmente.

Quais práticas?
Charlie: As de discursos e posicionamentos recheados de falsidade, demagogia, hipocrisia e boicotes fúteis. No Brasil cresceu estes pensamento e sentimento do “quanto pior e mais tosco, melhor” no meio underground. Qualquer um que queira trabalhar sério é visto como algo ruim por quem não teve ou não tem a mesma gana e seriedade no trabalho em suas bandas. Aqui parece ser proibido pedir até ajuda de custos, água ou cerveja durante a banda toca, falam mal até de material bem impresso, bem feito, etc. Daí temos este cenário com festivais acabando por falta de público e apoio, excelentes músicos migrando para outros estilos por terem passado a maior parte de suas vidas dedicadas à música pesada e hoje não terem uma profissão legal e são obrigados a tocar outros estilos para sobreviver. Enfim, é a vitória dos derrotados, e mesmo assim eles ainda reclamam.

Além dos lançamentos individuais, o SC tem vários trabalhos compartilhados. Com o Agathocles, por exemplo, que é um ícone grindcore. Por esses lançamentos, não haveria mais abertura para o StomachalCorrosion em eventos de grindcore?
Charlie – Realmente não entendo esta situação. Uma vez tentei nos incluir em um evento com uma banda do exterior e o organizador me falou que não éramos um nome interessante para tal pois não tínhamos público. Daí quando tocamos em eventos como o Roça’n’Roll, por exemplo, fomos vistos como vendidos, traidores, mercenários, etc e eu foi chamado até de Porco Capitalista. Mesmo a gente não ganhando nada para tocar ali e em outros eventos. É como já mencionei, são os donos do estilo ditando as regrinhas de acordo com suas vidinhas deprimentes e inertes. De nossa parte, a corrosão continua.

Estar baseado em uma cidade como BH ou SP, faz diferença para o desenvolvimento do trabalho de uma banda undergorund?
Charlie Curcio - As possibilidades encontradas em uma metrópole são sempre infinitamente maiores que em qualquer interior, seja a região que for. Principalmente que hoje muitas coisas são mais fáceis e acessíveis do que quando comecei com o SC, por exemplo. Mas, não se iluda, aventureiros e derrotados existem em todos os lugares, na cidade grande é mais fácil de desvencilhar de tais pessoas, claro. Quanto a shows, se quiser uma banda não precisa nem sair de BH, uma vez que rolam shows constantemente por aqui. Mas ainda encontramos muito amadorismo e desrespeito com as bandas.


Então o SC é de fato uma banda diferente e sobrevivente entre “dois mundos”. Portanto, continuar é forma de resistência da banda?
Charlie Curcio
- Acho muito legal que a banda consiga ser bem vista e de certa forma recebida por públicos com alguma distinção ideológica e musical. Para mim, particularmente, estamos todos em um único universo, o da Música Pesada, do Rock e underground no geral. Nunca gostei de rótulos e divisões. E sim, resistir fazendo este tipo de som por tantos anos e com tantas dificuldades e percalços me faz ser grato a todos meus companheiros de banda e a todos que acreditaram no nosso trabalho, e a Roadie Crew é um destes maiores parceiros que sempre tive.



(Foto: Por: Helbert Abreu. Esq. p/ Dir: Charlie - Guit., Hash Golem - Baixo, Saulo - Voc. e Fred - bat.).


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