O novo lançamento do Stomachal Corrosion foi via Cogumelo Records. Além
de toda produção gráfica especial desse álbum, o que ele traz de diferente do
“Transtorno Obsceno Repulsivo”?
Charlie Curcio: Acredito que este material está mais homogêneo em
questão de estilo em relação ao nosso primeiro CD. Tivemos tempo para irmos
amadurecendo um estilo dentro de nossas possibilidades, na forma de compor e executar.
E também é nossa melhor produção e assessoria que já tivemos até hoje.
Com o novo álbum em mãos, as possibilidades para o SC podem ser
ampliadas? Farão uma turnê de divulgação?
Charlie: A expansão do nome da banda já chegou a um patamar
incrível. Estar nos catálogos da Cogumelo e GreyHaze (EUA) faz este efeito,
pois são gravadoras com larga história e tradição. Sobre turnê, você sabe como
poucos as dificuldades que esta prática carrega consigo aqui no Brasil,
principalmente quando temos tantos compromissos particulares que nos podam para
certas ações. Mas, estou procurando sempre fechar datas ao vivo em várias
cidades para divulgarmos o novo álbum.
Sabemos que a Cogumelo foi importantíssima na cena nos anos 80 e 90 e
está relançando muitos itens preciosos de seu catálogo. A tradição da gravadora
e, principalmente, pela grandiosidade do catálogo contribui para colocar o novo
álbum em outro patamar de lançamentos da banda? Ser um contratado da Cogumelo
Records ainda faz diferença na cena?
Charlie: O trabalho na Cogumelo é constante desde seu primeiro dia
e com predominância hoje para os relançamentos de alguns itens de seu
riquíssimo catálogo recheado de clássicos e alguns lançamentos de novos títulos
inéditos. Este respaldo nos dá uma moral de fazermos parte deste catálogo. Sem
dúvida este fato ocorrido com o SC me enche, particularmente, de satisfação e
orgulho. E estar na Cogumelo é importante, tendo em vista que todos os dias
várias bandas entram em contato enviando material para audição visando contrato
de lançamento.
O SC é quase "nômade".
Começaram na Paraíba, depois migraram para o interior de MG e agora em BH. Essa
mobilidade foi legal para banda?
Charlie: Sempre digo que, atrelado ao desinteresse, à falta de
profissionalismo e seriedade de alguns caras que passaram pela formação, as
mudanças, tanto na banda quanto de cidades e regiões, foram os maiores
problemas para a banda. Isso tudo não permite um trabalho contínuo e constante.
É sempre péssimo, cansativo e desgastante ensaiar tudo e montar tudo de novo. Claro
que hoje as condições de vida são outras, mas tenho procurado ter paciência com
algumas situações em nome da estabilidade e da continuação do trabalho. Penso que
lançar um novo CD de inéditas em 2020 é primordial a manutenção da formação.
Estar baseado em uma cidade como BH, ainda faz diferença para o
desenvolvimento do trabalho de uma banda underground?
Charlie: As possibilidades encontradas em uma metrópole são sempre
infinitamente maiores que em qualquer interior, seja a região que for.
Principalmente, que hoje muitas coisas são mais fáceis e acessíveis do que
quando comecei com o SC. Mas, não se iluda! Aventureiros e derrotados existem
em todos os lugares. Na cidade grande é mais fácil se desvencilhar de tais
pessoas, claro. Quanto a shows, se quiser, uma banda não precisa nem sair de
BH, uma vez que rolam shows constantemente por aqui. Mas ainda encontramos
muito amadorismo e desrespeito com as bandas.
O SC assume-se como uma banda de grindcore, mas trafegam muito bem pelo
metal, inclusive em eventos. Há alguma particularidade na cena grind que difere
da cena metal? E ao assumirem-se como "grind" encontram mais
aceitação na cena grind em relação à cena metal?
Charlie: Sinceramente não sei mais se somos, ou até se fomos Grind. Acabo acreditando que o som do SC é algo que flerta entre os estilos mencionados, mas acabou tendo alguma característica própria, o que vejo com enorme satisfação. Sobre aceitação, a banda sempre encontrou melhor respaldo e recebeu convites para shows, compras de material, além de respeito e apoio no meio Metal. Basta ver os eventos em que tocamos, a enorme maioria foi de cunho Metal. Não que me segreguei a este nicho, muito pelo contrário, sempre militei pelo e no Grind/HC/Punk, e mesmo assim noto que alguns "donos" deste meio fazem algum tipo de vista grossa ao evitarem de alguma forma o SC. Não que isso me afete, até porque a banda segue sua vida e hoje estamos em uma gravadora com catálogo 90% de bandas Metal e ainda temos muito apoio de Grinders, Punks de HCs. Veja nossa pequena discografia e verá quantos materiais temos por selos Grind e quantos por selos Metal. Às vezes a demagogia e hipocrisia aflora mais onde estas práticas são condenadas, o que é natural do ser humano, infelizmente.
Charlie: As de
discursos e posicionamentos recheados de falsidade, demagogia, hipocrisia e
boicotes fúteis. No Brasil cresceu estes pensamento e sentimento do “quanto
pior e mais tosco, melhor” no meio underground. Qualquer um que queira
trabalhar sério é visto como algo ruim por quem não teve ou não tem a mesma
gana e seriedade no trabalho em suas bandas. Aqui parece ser proibido pedir até
ajuda de custos, água ou cerveja durante a banda toca, falam mal até de
material bem impresso, bem feito, etc. Daí temos este cenário com festivais
acabando por falta de público e apoio, excelentes músicos migrando para outros
estilos por terem passado a maior parte de suas vidas dedicadas à música pesada
e hoje não terem uma profissão legal e são obrigados a tocar outros estilos
para sobreviver. Enfim, é a vitória dos derrotados, e mesmo assim eles ainda
reclamam.
Charlie – Realmente
não entendo esta situação. Uma vez tentei nos incluir em um evento com uma
banda do exterior e o organizador me falou que não éramos um nome interessante
para tal pois não tínhamos público. Daí quando tocamos em eventos como o
Roça’n’Roll, por exemplo, fomos vistos como vendidos, traidores, mercenários,
etc e eu foi chamado até de Porco Capitalista. Mesmo a gente não ganhando nada
para tocar ali e em outros eventos. É como já mencionei, são os donos do estilo
ditando as regrinhas de acordo com suas vidinhas deprimentes e inertes. De
nossa parte, a corrosão continua.
Charlie Curcio - As possibilidades encontradas em uma metrópole são sempre infinitamente maiores que em qualquer interior, seja a região que for. Principalmente que hoje muitas coisas são mais fáceis e acessíveis do que quando comecei com o SC, por exemplo. Mas, não se iluda, aventureiros e derrotados existem em todos os lugares, na cidade grande é mais fácil de desvencilhar de tais pessoas, claro. Quanto a shows, se quiser uma banda não precisa nem sair de BH, uma vez que rolam shows constantemente por aqui. Mas ainda encontramos muito amadorismo e desrespeito com as bandas.
Charlie Curcio - Acho muito legal que a banda consiga ser bem vista e de certa forma recebida por públicos com alguma distinção ideológica e musical. Para mim, particularmente, estamos todos em um único universo, o da Música Pesada, do Rock e underground no geral. Nunca gostei de rótulos e divisões. E sim, resistir fazendo este tipo de som por tantos anos e com tantas dificuldades e percalços me faz ser grato a todos meus companheiros de banda e a todos que acreditaram no nosso trabalho, e a Roadie Crew é um destes maiores parceiros que sempre tive.
(Foto: Por: Helbert Abreu. Esq. p/ Dir: Charlie - Guit.,
Hash Golem - Baixo, Saulo - Voc. e Fred - bat.).